Nos dias 1º e 2 de julho, a Casa Firjan, no Rio de Janeiro, foi palco do Midterm Meeting do C20 Brasil. O evento reuniu organizações da sociedade civil global, representantes dos governos do G20 e diversas autoridades. Este encontro precedeu a entrega das recomendações  dos 10 grupos temáticos alinhados ao governo brasileiro, abordando questões como combate à fome, emergência climática, igualdade de gênero, economias inclusivas, justas e antirracistas, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável.

A sessão de abertura contou com a presença de Henrique Frota, presidente do C20 e diretor-executivo da ABONG, Alessandra Nilo, sherpa do C20 e co-fundadora da Gestos; Simon Vilakazi, da Economic Justice Network of the Fellowship of Christian Councils in Southern Africa (FOCCISA); e Janaína Gama, representando o Women20. 

No âmbito do governo do Brasil, Prefeitura e Governo do Estado do Rio de Janeiro, participaram Lucas Padilha, da Secretaria Municipal da Casa Civil e integrante do Comitê Rio G20, Rosangela Gomes, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Atiliana Brunetto, do Ministério das Mulheres, Carlos Augusto Gadelha, do Ministério da Saúde, Roberta Cristina Martins, do Ministério da Cultura, Gustavo Westmann, da Secretaria Geral da Presidência da República do Brasil, e a embaixadora Tatiana Rosito, do Ministério da Fazenda e sherpa da Trilha de Finanças do G20.

O primeiro dia do evento foi dividido em duas partes e contou com mesas temáticas que discutiram: – Economias justas, inclusivas e antirracistas; – Combate à fome, pobreza e emergência climática; – Democracia, acesso à justiça e espaço cívico. O segundo dia foi dedicado a uma reunião fechada entre os membros do Steering Committee (composto pelos co-facilitadores dos Grupos de Trabalho e o Conselho Consultivo Internacional) e Felipe Hees, sous sherpa do G20 Brasil no Ministério das Relações Exteriores, e Fabrício Prado, da Assessoria de Participação Social e Diversidade do MRE.

Com o encerramento do Midterm Meeting, o foco agora se volta à continuidade do advocacy através de ações como a incidência do C20 em reuniões estratégicas do G20: veja o calendário. Henrique Frota, presidente do C20, destacou a relevância deste momento: “Agora, a intensidade do trabalho fica mais dirigida à incidência política, aos diálogos com os atores e atrizes do G20 e com os demais grupos de engajamento, sempre buscando a incorporação das nossas proposições dentro das declarações do G20, na trilha Sherpa e na trilha de finanças.”

Alessandra Nilo, sherpa do C20 Brasil, reforçou a importância da sociedade civil estar alinhada e engajada nesse processo: “Por isso a importância de a sociedade civil estar bem alinhada e engajada nessa incidência, mostrando os resultados do que vem sendo desenvolvido como recomendações pelos 10 grupos de trabalho.”

Em novembro, representantes dos 20 países do G20 se reunirão no Brasil para discutir os temas globais debatidos e recomendados também pelos grupos de engajamento. Este encontro representa um marco significativo no processo do C20, que hoje conta com mais de 2 mil organizações globais de 91 países, reafirmando a importância da participação ativa da sociedade civil na construção de um futuro mais justo, equitativo e sustentável para todas as pessoas. 

Assista o Midterm na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=eMMb6vWWDwc

 

Fotos: Maicon Douglas 

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Confira os destaques  

Mesa 1 – Economias Justas, Inclusivas e Antirracistas: por que e para quem? Moderação Kamal Ramburuth | Institute for Economic Justice

 

Carolina Almeida (Geledés – Instituto da Mulher Negra): “As economias justas devem ser fomentadas por uma aliança ampla, com estados, comunidades locais e com diálogo com os grupos mais impactados. O futuro será feminista e antirracista ou não será.”

 

Guillermina Alaniz (AIDS Healthcare Foundation): “A crise climática tem um grande impacto na estrutura de saúde. O progresso tem haver com controle e combate a doenças infecciosas. “Fortalecer os sistemas de saúde inclui estratégia de autocuidado e serviços básicos de saúde, e isso diminui as desigualdades.”

 

Andressa Pellanda (Campanha Nacional pela Educação): “No campo da educação muitas vezes vemos empresas privadas em espaços de decisão ao invés de uma sociedade civil organizada ou governos em diálogo com a sociedade pela defesa de direitos humanos. A prática do diálogo é um dos meios mais simples com que nós, como professores e pensadores críticos, podemos começar a cruzar as fronteiras.” 

 

Patrícia Miranda: (Latindadd): “Nós propomos que o G20 apoie um marco bilateral de dívidas em que os países já sabem a quem e quanto devem. Precisamos de um alívio e cancelamento de dívidas para proteger os países de choques econômicos e catástrofes naturais, além de uma tributação progressiva.”

 

Mesa 2 – Enfrentando a Fome, a Pobreza e a Crise Climática: urgências que requerem mudanças imediatas. Moderação: Ah Maftuchan | The PRAKARSA (Centre for Welfare Studies)

 

Mariana Macário (Ação da Cidadania): “Uma das principais recomendações do nosso grupo é que o G20 restrinja o crescimento de produtos alimentícios, especialmente os ultraprocessados. Há o problema da fome e da obesidade, principalmente entre os grupos mais vulneráveis. Se não debatermos os estímulos do Estado, não combateremos este problema.”

Enrique MK (Climate Action Network): “Algumas mudanças estão acontecendo, mas provavelmente não na velocidade que desejamos. A transição energética, por exemplo, abrange energias renováveis, baterias, minerais e eletrificação. Trata-se das pessoas; não se trata apenas das demandas por petróleo, gás e carvão. Tudo deve estar alinhado com padrões e direitos.”

 

Mesa 3 – Democracia, Espaço Cívico e Acesso à Justiça: essenciais para alcançar os ODS e os direitos humanos. Moderação: Sylvia Siqueira Campos | Open Society Foundations

 

Pedro Perex (Lapin): “A tecnologia pode ser utilizada tanto para combater as desigualdades existentes quanto para evitar que ela mesma reproduza desigualdades. Promover a conectividade significativa não significa apenas fornecer internet, mas também capacitar as pessoas para aproveitar o acesso à dimensão tecnológica.”

Benjamin Bellegy (Wings): “Uma de nossas recomendações é que a filantropia, embora não possua recursos tão grandes quanto governos ou empresas, tem a capacidade de apoiar iniciativas novas e servir como ponte entre governos e empresas. Precisamos de um arcabouço legal mais favorável.”

André Amaral (Pacto pela Cidadania): “A proposta de combate à corrupção que defendemos é a transparência, estabelecendo parâmetros mínimos para o lobby, para que saibamos quem de fato formula políticas públicas para que todas as pessoas tenham acesso. Não se trata apenas de defender a democracia, mas de defender as pessoas.”

Juliane Cintra (vice-presidente do C20/Ação Educativa/Abong): “As recomendações têm rostos, têm territórios, têm subjetividades. Não é possível pensar na arquitetura financeira global sem considerar o colonialismo e a responsabilidade do Norte global. Precisamos trabalhar com uma visão de direitos humanos que inclua os direitos da natureza, outras cosmovisões, outras perspectivas de vida.”